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Por Ricardo Lima
O Brasil desponta como uma das promessas mais atraentes no mercado global de terras raras, impulsionado por depósitos superficiais de argilas iônicas e pelo crescente interesse de mineradoras estrangeiras em diversificar cadeias produtivas fora da China.
Diante de restrições às exportações impostas por Pequim e da alta nos preços no Ocidente, companhias como Viridis, Lynas, Brazilian Critical Minerals e outras listadas na bolsa australiana aceleram planos de exploração em solo brasileiro. As vantagens geológicas e climáticas do país, aliadas a métodos de extração de baixo custo e impacto ambiental reduzido, aumentam seu apelo estratégico. É o que aponta o site australiano Stockhead.
Entre as iniciativas nacionais que ganham projeção internacional, destacam-se a Serra Verde Mineração e a Aclara Resources. A Serra Verde opera em Minaçu, Goiás, a única planta de produção comercial de terras-raras fora da China atualmente, com foco em elementos magnéticos estratégicos como neodímio, praseodímio, térbio e disprósio. Já a Aclara Resources, listada na bolsa de Toronto, conduz projetos no Chile e no Brasil, com destaque para o depósito de argilas iônicas em Carina (GO). Ambas as empresas representam um avanço significativo na busca por autonomia ocidental na cadeia de suprimentos de terras-raras.
Megaprojeto da Viridis em Poços de Caldas
Entre os empreendimentos de destaque, o projeto Colossus, da empresa australiana Viridis Mining & Minerals, ganha atenção especial. Localizado em Poços de Caldas (MG), o depósito possui 493 milhões de toneladas a 2508 ppm de TREO (total de terras-raras no depósito), com alto teor de elementos magnéticos (601 ppm de MREO – elementos magnéticos dentro desse total), mas utiliza apenas 20% da reserva em sua vida útil prevista de 20 anos.
De acordo com o CEO Rafael Moreno, “o estudo de pré-viabilidade confirma o que acreditamos desde o início: o Colossus está emergindo como um dos projetos de terras-raras mais robustos economicamente e estrategicamente significativos do mundo”. Ele destaca ainda que o projeto “se destaca em um mercado cada vez mais definido por qualidade, segurança e diversificação das cadeias de suprimento”.
Mesmo com o preço atual do neodímio-praseodímio em queda (US$ 63kg), o projeto ainda projeta US$ 2,568 bilhões em fluxo de caixa ao longo das duas décadas de operação. Em cenário otimista, esse valor pode saltar para US$ 5,64 bilhões, com uma receita anual de até US$ 394 milhões.
A Viridis também destaca como vantagem competitiva o uso de energia 100% limpa (hidrelétrica e solar) e a proximidade de infraestrutura instalada. A empresa afirma estar em negociações avançadas com refinarias internacionais interessadas em seu concentrado de alta pureza e baixo nível de impureza
Mineradoras australianas avançam projetos no Brasil
Com exportações chinesas limitadas e uma disparada nos preços das terras-raras fora da Ásia, empresas como a australiana Lynas estão avaliando novos projetos em países com clima e geologia favoráveis — e o Brasil lidera essa lista. Segundo a Brazilian Critical Minerals, as argilas iônicas brasileiras oferecem vantagens expressivas sobre os depósitos de rocha dura, como menor custo de extração, menor consumo de ácido sulfúrico e impacto ambiental reduzido.
A Brazilian Critical Minerals, por exemplo, é dona do projeto Ema, na região de Apuí (AM), que abriga um dos maiores depósitos do tipo no mundo, com 943 milhões de toneladas a 716 ppm de óxidos de terras-raras (TREO). Apenas sua zona inicial concentra 341 Mt e inclui elementos magnéticos valiosos como neodímio, praseodímio, térbio e disprósio — fundamentais na produção de motores elétricos, turbinas e equipamentos de alta tecnologia.
A companhia já testou com sucesso a técnica de recuperação in situ (ISR), que consiste na injeção de soluções químicas no subsolo para dissolver e extrair os minerais. “Somos o único projeto no Ocidente que já conseguiu aplicar ISR com sucesso em argilas iônicas, o que reduz significativamente os riscos e custos”, afirma Andrew Reid, CEO da mineradora.
Outras empresas como Axel REE, Perpetual Resources e Verity Resources também estão explorando regiões ricas em terras-raras e gálio, especialmente em Minas Gerais e Bahia. A Perpetual, por exemplo, obteve até 94% de recuperação de elementos magnéticos em seu projeto Raptor, e a Verity identificou zonas com até 25.817 ppm de TREO em amostras de superfície.
Brasil ganha protagonismo na transição energética
A presença crescente de players internacionais e os avanços tecnológicos, como a recuperação in situ e o uso de métodos de extração menos agressivos, reforçam o apelo do Brasil como nova fronteira estratégica. A técnica foi testada com sucesso pela Brazilian Critical Minerals no projeto Ema, no Amazonas. Segundo o CEO Andrew Reid, “somos o único projeto no Ocidente que conseguiu extrair argilas usando recuperação in situ, o que reduz significativamente os riscos do projeto”.
Reid também comentou que a empresa possui as condições geológicas ideais para aplicar essa técnica. E completou: “esperamos que mais sejam descobertas, mas no momento somos os únicos em que essa tecnologia barata pode ser aplicada — isso é um grande mérito para o setor e certamente um grande mérito para o Brasil”.
Indiretamente, Reid ainda observou que os preços das terras-raras dispararam no Ocidente, com relatos de valores até cinco vezes superiores aos praticados na China, pressionando países e indústrias a buscar novas fontes confiáveis de suprimento.